Série de Estudos 12/12 Mulheres Notáveis - Lídia



LÍDIA: A ABERTURA DE UM CORAÇÃO HOSPITALEIRO
Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.
Atos 16.14

Lídia é lembrada especialmente como a primeira pessoa convertida ao evangelho na Europa. Ela foi a primeira pessoa que respondeu à mensagem de Cristo durante a primeira viagem missionária de Paulo à Europa. Sua conversão marcou o primeiro ponto de apoio da igreja num continente que acabou sendo o centro mundial do testemunho do evangelho (a Europa deu lugar à América do Norte nessa posição somente há cerca de cem anos). Lídia não era Européia. A capital de Lídia era Sardes. O ultimo conhecido rei desse território foi Creso, que reinou no século 6º a.C e cujo próprio nome é sinônimo de riqueza (ele foi vencido por Ciro, rei do império medo-persa no tempo de Esdras. Ciro usou a riqueza tomada de Creso para ajuda-lo a conquistar a maior parte do mundo conhecido). Sardes (ainda a capital da região no tempo do apóstolo João) era sede de uma das sete igrejas no livro de Apocalipse3.1-6. A verdadeira cidade natal de Lídia era Tiatira , localizada na região da Ásia Menor onde Lucas nos conta que Paulo, silas e Timóteo “foram impedidos pelo Espirito Santo de pregar a Palavra” – Atos 16.6. Pouco depois que todas as portas se tinham fechado para Paulo estabelecer qualquer igreja na Ásia Menor, Deus soberanamente conduziu o grupo de missionários para a Europa por meio de um sonho em que um homem da Macedônia disse a Paulo: “Passa à Macedônia e ajuda-nos”. Naqueles dias, Macedônia era o nome de uma província romana que cobria grande parte de península superior da Grécia, desde o Mar Adriático até o Mar Egeu. A área em que Paulo ministrou fica na Grécia de hoje (a Macedônia moderna é uma região consideravelmente menor, distinta da Grécia). Lucas diz: “Imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o Evangelho” – Atos 16.10.
Lídia foi uma mulher notável que surgiu, de repente e inesperadamente, na narrativa bíblica, lembrando-nos de que, conquanto os propósitos soberanos de Deus geralmente permaneçam escondidos dos nossos olhos, ele sempre está operando de modo secreto e surpreendente para chamar um povo para seu nome.

COMO O EVANGELHO CHEGOU A LÍDIA – A história de Lídia é curta, mas marcante. Ela é contada em apenas alguns versículos no começo da narrativa de Lucas sobre a segunda viagem missionária de Paulo. Esta foi longa viagem missionária que é descrita em Atos 15.36 18.22. Os principais companheiros de Paulo nessa viagem foram Silas e Timóteo. A Soberana mão da orientação providencial de Deus era evidente para todo grupo que viajava com Paulo. Lucas não explicou todas as circunstâncias, mas, por algum meio, eles foram proibidos pelo Espírito de Deus de entrar no coração da Ásia Menor. Foi quando Paulo recebeu uma revelação, chamando-o para o continente europeu. Deus deixou completamente claro que só havia um caminho a seguir – a Macedônia. No tempo de Paulo, Filipos era uma comunidade ativa e florescente na encruzilhada de duas rotas comerciais (um por terra, por estrada de Tessalônica; a outra por mar, pelo porto de Neápolis). Lucas descreve Filipos “como uma colônia” – Atos 16.12, o que significa que se tratava de uma colônia de Roma, com governo romano e grande população de cidadãos romanos. Isso quer dizer que a cidade tinha o seu próprio governo local, responsável diretamente a Roma, totalmente independente do governo da província da Macedônia. Seus cidadãos eram isentos dos impostos da Macedônia. Assim, era uma cidade próspera e florescente, cheia de comércio e empreendimentos do mundo inteiro. Era um lugar estratégico para apresentar o Evangelho à Europa. Paulo e seu grupo passaram “alguns dias” em Filipos, aparentemente esperando pelo sábado. A estratégia evangelística normal de Paulo era levar o Evangelho primeiramente à sinagoga, porque, se ele fosse primeiro aos gentios, os judeus jamais o escutariam. Filipos era uma cidade totalmente gentílica que não possuía sinagoga. Haviam alguns judeus em Filipos, mas poucos – não o suficiente para sustentar uma sinagoga. Para que uma sinagoga se estabelecesse em qualquer lugar, o costume judeu exigia um quórum mínimo (conhecido como minyan) de pelo menos dez homens judeus. O número era supostamente derivado do relato bíblico da destruição de Sodoma e Gomorra, em que Deus disse a Abraão que pouparia a cidade se houvesse ali dez homens justos – Genesis 18.32-33. Segundo a tradição, nas comunidades onde não havia sinagoga, as mulheres judias podiam se reunir em grupos para orar, se quisessem, mas os homens tinham que formar um minyan legítimo antes de participar de qualquer culto comunitário formal e público – incluindo a oração, leitura da Torá ou ministração de bênçãos públicas. A comunidade de Filipos não era grande aparentemente, Paulo e seu grupo se informaram sobre o lugar onde as mulheres judias se reuniam para orar no sábado, e foram até lá – Atos 16.13. O rio era um pequeno córrego conhecido como Gangitis, o pequeno grupo de mulheres que se reuniam ali constituía a única reunião pública de judeus em Filipos num sábado típico. Seguindo o princípio de levar o Evangelho “Primeiro ao judeu” – Romanos 1.16, Paulo foi até a margem do rio para pregar. Ironicamente, a única mulher que respondeu com mais entusiasmo nem era judia. Era Lídia adoradora de YHWH, pelo menos externamente. Era de uma nação gentílica, uma ativa buscadora do Deus verdadeiro sem que tivesse se tornando numa prosélita judia, Lucas descreve o seu primeiro encontro com Lídia – Atos 16.14.
Lídia era comerciante, vendia tinta de púrpura e tecidos finos de púrpura, fabricados por artesãos famosos de sua cidade natal de Tiatira. Essa tinta era cara e rara, era feita de um molusco de casca dura conhecido como murex. A tinta tireana mais cara era a base de púrpura real, uma das substâncias mais preciosas do mundo antigo. Não há dúvidas que Lídia era uma mulher de alguns bens – Atos 16.15 indica que ela tinha lar em Filipos, provavelmente com empregados domésticos. Tudo isso confirma que ela era uma mulher rica.

COMO O EVANGELHO CATIVOU O CORAÇÃO DE LÍDIA – O modo como Lídia se converteu é uma bela ilustração de como Deus sempre redime as almas perdidas. Na verdade, sempre que se vê uma pessoa como Lídia realmente buscando a Deus, podemos ter certeza de que é Deus que está atraindo a ele. Sempre que alguém confia em Cristo, é Deus que abre o coração para que a pessoa creia. Se Deus não nos levasse a Cristo, nós jamais iríamos. Jesus foi bastante claro quanto a isso João 6.44,65. O coração humano está caído absolutamente preso ao pecado. Todo pecador é incapaz como Maria Madalena sob possessão daqueles sete demônios. Romanos 8.7-8 - Não temos o poder de mudar o nosso coração ou de nos desviarmos do mal e fazer o bem – Jeremias 13.23. Nossa vontade inclina-se de acordo com o que amamos. Somos prisioneiros de nossa própria corrupção. A Escritura retrata a condição de todo pecador caído num estado de escravidão, sem esperança, ao pecado. Nós não somos capazes de mudar o nosso próprio coração para melhor. Atos 16.14 descreve Lídia como uma mulher “temente a Deus”. Pelo menos intelectualmente, ela já sabia que YHWH era o único Deus verdadeiro. Parece que ela se reunia regularmente com as mulheres judias que oravam no sábado, mas não tinha se convertido ao judaísmo. Lucas relata que Lídia “nos escutava”, usando a palavra grega que significa que ela escutava atentamente. Prestava atenção ao significado das palavras. Ela não era como os companheiros de Paulo no caminho para Damasco, que ouviram o som de uma voz – Atos 9.7. Ela ouviu com elevada atenção e entendimento enquanto Paulo e seus companheiros explicavam a mensagem do Evangelho. Seu coração estava verdadeiramente aberto. Era genuína a sua busca de Deus. Porém, observe Lucas que enfatizar: não foi Lídia que abriu o coração e os ouvidos à verdade. Sim, ela procurava, mas mesmo isso foi porque Deus a atraía. Ela escutava, mas foi Deus que lhe deu ouvidos para ouvir. Ela tinha um coração aberto porém quem abriu o seu coração foi Deus. Lucas expressa a soberania de Deus na salvação de Lídia, dizendo “O Senhor lhe abriu o coração para entender as coisas que Paulo dizia” – Atos 16.14.
Se não fosse pela soberana obra de Deus de atrair e abrir o coração dos pecadores, ninguém seria salvo. Efésios 2.8-9 A Salvação é dom de Deus. É Deus quem abre o nosso coração para crer. O arrependimento é algo que ele nos concede graciosamente. É por isso que oramos pela salvação de nossos amados 
Se a salvação dependesse apenas da escolha do nosso livre-arbítrio, de que adiantaria orar a Deus por ela?

        Sabemos em nosso coração que a nossa salvação é inteiramente obra da graça de Deus, e não, em qualquer sentido, devida a qualquer obra nossa. Todos os que creem como Lídia precisam confessar que foi Deus que abriu primeiramente o seu coração para que cressem. Muitas pessoas imaginam que a doutrina da soberania de Deus significa que ele força as pessoas a crer contra a própria vontade. Não pense por um minuto que existe alguma força violenta ou coação envolvida quando Deus atrai as pessoas a Cristo. A graça não empurra os pecadores contra  sua vontade para Cruto. Ela os atrai voluntariamente a ele, abrindo primeiro os seus corações. Ela os capacita a ver o pecado como realmente é, dando-lhes poder para desprezar aquilo que antes amavam. Esse é exatamente o significado de “graça irresistível” – é como Deus atraí pecadores. A descrição de Lucas da conversão de Lídia capta isso de modo belíssimo. O Senhor abriu o seu coração para crer – e ela creu.

COMO O EVANGELHO TRANSFORMOU A VIDA DE LÍDIA - A confiança de Lídia se evidenciou em seus atos. Quase incidentalmente, Lucas diz: “Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa...” – Atos 16.15. Aparentemente Lídia como o eunuco etíope, não precisou pensar muito antes de dar o primeiro passo de obediência a Cristo. Ali mesmo, e naquela hora, ela foi batizada. Talvez Lídia fosse viúva. Sua casa certamente incluía empregados. Talvez tivesse filhos adultos que viviam e viajavam com ela. Porém, quem quer que fossem, todos aderiram a fé e foram batizados juntamente com Lídia. Ela já estava conduzindo outros a Cristo. E Deus graciosamente abriu-lhe o coração. A hospitalidade de Lídia para com esses estrangeiros que tinham vindo em nome do Senhor é elogiável.         
A disposição que demonstrou em recebe-los nos lembra de que ela era uma mulher de recursos. O grupo incluía Paulo, Silas, Timóteo e Lucas. Com toda probabilidade, haviam outros também que o acompanhavam. Esse devia ser um grupo grande. Não seria tarefa fácil, mesmo hoje em dia, hospedar tanta gente. Como eles não tinham planos sobre aonde ir em seguida, ela estava se oferecendo para hospedá-los por um tempo indeterminado – Atos 16.15. O custo real para Lídia era potencialmente muito mais alto do que o valor em dinheiro para alimentar e cuidar de um grupo de missionários. Foi em Filipos que Paulo e Silas foram açoitados, jogados na prisão e acorrentados. Eles acabaram sendo libertados por um terremoto milagroso e, o carcereiro e todos da sua casa se tornaram cristãos. Lídia estava se expondo a possíveis problemas – perda de negócios, má-vontade na comunidade e ate mesmo uma sentença de prisão para ela – ao hospedar esses estranhos e ofereceu-lhes uma base de onde pudesse evangelizar. Seu maravilhoso ato de hospitalidade abriu caminho para a Igreja entrar na Europa. Quando ela abriu o seu lar para o apostolo Paulo, Lídia teve a honra de receber em sua própria sala as primeiras reuniões da primeira igreja que foi estabelecida na Europa. Ela obteve essa honra para si quando demonstrou a sua calorosa hospitalidade a essa equipe missionária que mal conhecia. Ela exemplifica o tipo de hospitalidade que a Escritura exige de todo crente. 
          A hospitalidade de Lídia foi tão marcante quanto a sua fé. Por sua generosidade a Paulo e a sua equipe missionaria, o evangelho obteve lugar firme em Filipos. Poucos anos depois, Paulo escreveu a epístola que tem o nome dessa igreja. Pelo tom da epístola, é óbvio que a oposição ao evangelhos ainda era forte em Filipos. Mas o evangelho era mais poderoso ainda, e de Filipos o testemunho de Cristo ressoou por toda Europa. Ela continuou a se espalhar até os confins da Terra mesmo hoje.
Tudo o que torna Lídia uma mulher notável é resultado da obra de Deus em seu coração. 
Assim como em todas as mulheres que estudamos anteriormente. A Escritura é clara quanto a isso. 




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Livro: Doze Mulheres Notáveis, John MacArthur 2a Edição.
(*) Imagem encontrada em site de busca, internet.

(**) O pastor John MacArthur é um dos líderes evangélicos mais preeminentes de nossos dias. Seus livros, pregações e ministério têm atingido milhões de pessoas em todo o mundo. MacArthur é presidente do ministério Grace to You e exerce seu ministério pastoral na Grace Community Church, na Califórnia.