Série de Estudos 9,10/12 Mulheres Notáveis - Marta e Maria
MARTA E MARIA: TRABALHO E ADORAÇÃO
Maria… quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para o outro, ocupada em muitos serviços.
Lucas 10.39-40
Hoje conheceremos duas mulheres notáveis, elas moravam com seu irmão, Lázaro, no vilarejo de Betânia. Era uma pequena distância a pé de Jerusalém até lá, cerca de três quilômetros a sudeste do portão oriental do templo - João 11.18. Betânia era uma parada regular para Jesus em suas viagens, e o lar dessa família parece ter sido um ponto central de acolhimento para Jesus durante as suas visitas a Judeia. Marta e Maria, eram muito diferentes em vários aspectos, mas semelhantes numa questão vital: ambas amavam a Cristo. Tudo o que nelas era louvável estava centrado nEle. Ele era o foco da esperança sincera para cada uma das mulheres notáveis do Antigo Testamento, e Ele era muito amado pelas principais mulheres do Novo Testamento. Marta e Maria se tornaram amigas pessoas de Jesus durante o seu ministério na Terra. Essa família tornou-se tão íntima de Jesus, não há laços familiares entre os parentes de Jesus e a família de Betânia. Qualquer que tenha sido a maneira como começou o relacionamento, ele se desenvolveu numa comunhão calorosa e profundamente pessoal. Fica claro pela descrição de Lucas que Jesus se sentia à vontade na casa delas.
A hospitalidade certamente era uma característica especial dessas família. Marta, em particular, é sempre retratada como uma anfitriã meticulosa. Lucas 10.38 menciona a casa da família como Casa de Marta. Parece que Lázaro é o irmão mais novo porque em João 11.5 o menciona por último na lista de membros da família, e ele raramente vem à frente em qualquer narrativa. Alguns acreditam que a posição de Marta como dona de casa e aquele que prevalece indicam que ela era viúva. A Escritura somente nos revela que os três irmãos viviam juntos e não há menção de alguns deles ter-se casado. Também não é mencionado a idade deles. Maria ficava literalmente nos pés de Jesus cada vez que aparecia, seria difícil imaginá-los muito velhos.
Há três relatos significativos da interação de Jesus com essa família na Escritura. O primeiro é Lucas 10.38-42, descrevendo um pequeno conflito entre Marta e Maria sobre como demonstrar da melhor maneira a sua dedicação a Cristo.
O segundo em João 11, onde todo capítulo é dedicado a descrever como morreu o irmão Lázaro e foi trazido de volta à vida por Cristo. O tratamento pessoal de Jesus com Marta e Maria destaca as suas características individuais. João descreve com sensibilidade como as irmãs estava sofrendo pela perda e como Jesus ministrou-lhes em seu sofrimento, como ele mesmo sofreu com elas de modo profundo e pessoal, e como ressuscitou gloriosamente a Lázaro no próprio clímax do funeral.
O terceiro relato encontra-se em João 12, onde Marta e Maria parecem entender que Jesus se arriscou para devolver a vida a seu irmão. Na verdade, a profunda gratidão e do entendimento delas, pois como relata o capítulo mencionado Maria ungiu os pés de Jesus com unguento caríssimo e os enxugou com os próprios cabelos. Parecia que ela estava suspeitando fortemente que a ressurreição do seu irmão levaria os inimigos de Jesus a um ódio mortal e eles resolveram matá-lo João 11.53-54, isso certamente intensificou o seu sentimento de dívida de gratidão para com ele, como refletido no ato de adoração de Maria.
MARIA, A VERDADEIRA ADORADORA - Segundo Mateus e Marcos, a unção dos pés de Jesus por Maria aconteceu na casa de “Simão, o leproso”. É claro que uma pessoa com lepra não poderia frequentar uma reunião como essa, quanto menos ser anfitrião em sua própria casa. Os leprosos eram considerados imundos, sendo banidos das áreas populosas - Levítico 13.45-46. Como a Escritura diz que Jesus curou a todos que o procuravam - Lucas 6.19, Simão era provavelmente alguém a quem Jesus curara da lepra - Lucas 5.12-15. Simão era amigo da família e ele se ofereceu para servir, essa reunião com grupos de amigos e discípulos próximos de Jesus, talvez a celebração formal da volta de Lázaro da morte, todos reunidos para expressar gratidão a Jesus pelo que ele tinha feito.
MARTA, A SERVA DEDICADA - No final de Lucas 10 Marta foi levemente repreendida por Jesus e recebeu uma lição intensa sobre quais deveriam ser as suas prioridades - Lucas 10.38-42. Marta era a irmã mais velha. A reclamação dela parece infantil. Afinal foi Marta que convidou Jesus, foi e ela quem o recebeu, o que quer dizer que era ela a verdadeira dona dessa casa. Ela não estava apenas servindo como anfitriã para um amigo, era claramente a responsável pela casa. Em Lucas 7.36-50, quando Jesus visitou a casa de Simão, o fariseu (onde ocorreu a primeira unção de seus pés), ele estava sob o escrutínio de seus críticos. A hospitalidade foi notavelmente pobre naquela ocasião. Simão não mandou lavar os pés de Jesus nem o saudou apropriadamente - Lucas 7.44-46 - dois grandes erros sociais naquela cultura. No Oriente Médio, lavar os pés de um hóspede era equivalente a se oferecer para guardar o casaco de uma visita. Omitir uma saudação formal era quase como declará-lo inimigo. Marta, para grande mérito seu, quanto à hospitalidade fez exatamente o oposto de Simão, o fariseu. Ela se preocupou com seus deveres de anfitriã, querendo que cada detalhe estivesse correto. Muito do seu comportamento era elogiável.
O conflito entre elas, é fácil imaginar. Marta se irritou com Maria, é fácil de imaginar como a sua frustração cresceu. No começo ela tentou demonstrar de modo “sutil” que precisava de ajuda, tudo isso para lembrar a Maria que a sua irmã precisava de ajuda. Quando tudo isso falhou, ela desistiu de qualquer sutileza e expressou a sua irritação com Maria na frente de Jesus, reclamou com ele e pediu que ele interviesse e fizesse que Maria se lembrasse de suas obrigações. Marta se surpreendeu com a resposta de Jesus - Lucas 10.41-42.
A gentil admoestação de Jesus a Marta é primeiramente um lembrete de que devemos honrar aos outros acima de nós mesmos - 1 Pedro 5.5. A humildade sempre foi tema constante do ensino de Jesus e uma lição difícil para a maioria de seus discípulos. Mesmo na noite em que foi traído, cada um dos discípulos havia ignorado a hospitalidade básica em vez de tomar o papel de servo e lavar os pés dos outros João 13.1-7.
Marta estava errada em seu julgamento de Maria. O coração de Maria era o que estava no lugar certo. Seus motivos e desejos eram mais elogiáveis que os de Marta. Jesus sabia disso, porque conhecia o coração de ambas. O comportamento de Marta mostra quão sutil e pecaminoso é o orgulho humano, que corrompe até os nossos melhores atos. Num sentido prático e funcional, ela estava agindo como uma serva de todos, como Cristo tantas vezes ordenara. Sem dúvida, ela começou com a melhor das motivações e a mais nobre das intenções. No momento que ela parou para escutar a Cristo e fez que outra coisa que não fosse ele fosse o foco do seu coração e da sua atenção, a sua perspectiva tornou-se egocêntrica. Marta demonstrava uma atitude de orgulho pecador que a tornava suscetível também a outros males: ira, ressentimento, inveja, desconfiança, espírito crítico, julgamento e falta de bondade. Tudo isso apareceu em Marta em questão de minutos. Pior de tudo, as palavras de Marta contestavam o próprio Jesus - Lucas 10.40. Os pensamentos e os sentimentos de Marta estavam focados nela mesma, ela caiu numa armadilha religiosa comum, descrita por Paulo em sua Carta aos Coríntios 2 Co 10.12.
Em contraste, Maria estava de tal maneira como toda a sua atenção absorvida pelas considerações de Cristo, que se esqueceu de tudo o mais. Ela não estava sendo preguiçosa. Escutá-lo e adorá-lo era, naquele momento, o melhor uso de seu tempo e de suas forças, e o foco correto para a sua atenção. Uma coisa que se destacava em Maria de Betânia era a sua habilidade de observar e entender o coração de Cristo. Maria discernia o significado verdadeiro de Jesus até melhor que os doze discípulos. Seu gesto de ungí-lo em preparação para o seu sepultamento, no início daquela semana final, em Jerusalém, mostra um entendimento surpreendente maduro. Era fruto de sua disposição de se aquietar, escutar e ponderar.
Suspeito que muitas mulheres teriam a tendência de se simpatizar com Marta, e não com Maria. Afinal, seria considerado uma falta de educação deixar a sua irmã fazer todo o trabalho difícil na cozinha enquanto você fica na sala, conversando com os hóspedes. Os sentimentos de Marta eram naturais e compreensíveis, ela havia escolhido a melhor parte, essa é a prioridade maior que o serviço, e essa boa parte não lhe seria tirada, mesmo por algo tão educado e benéfico quanto ajudar Marta a preparar uma refeição para Jesus. Isso estabelece a adoração como a mais alta prioridade para todo crente. Cristo encontrou em Maria uma verdadeira adoradora.
Nunca devemos permitir que o nosso serviço por Cristo prevaleça sobre o nosso culto a ele. No momento em que nossas obras se tornam mais importantes do que a nossa adoração, viramos as verdadeiras prioridades espirituais de cabeça para baixo. Sempre que as boas obras são elevadas acima da sã doutrina e da verdadeira adoração, as obras também se estragam. Nossas próprias obras nunca poderão ser um meio de merecer o favor de Deus; por isso a Escritura sempre enfoca o que Deus fez por nós, não o que nós fazemos por Ele - Romanos 10.2-4.
As boas obras certas sempre jorram fé e são frutos dela. Parece que Marta se esqueceu delas, ela agia como se Cristo precisasse de seu trabalho mais do que ela precisava da obra dele em seu favor. Em vez de fixar humildemente a sua fé na importância da obra de Cristo pelos pecadores, ela pensava em termos do que ela podia fazer por ele. Essa parece ser a tendência natural do coração humano. Nós imaginamos que o que fazemos por Cristo é mais importante do que o que Ele fez por nós. Todo grande declínio espiritual na história do Cristianismo veio quando a Igreja perdeu de vista a primazia da fé e começou a enfatizar em obras. Praticamente eles negavam que a fé sozinha era instrumento de justificação, e isso corroía o fundamento do Evangelho. Nunca devemos pensar que as nossas obras são mais importantes do que as obras que Cristo fez por nós.
Marta e Maria nos lembram também de que Deus usa todos os tipos de pessoas. Ele nos deu diferentes dons por uma razão, e não devemos desprezar o outro só porque o nosso temperamento é diferente ou a nossa personalidade é constante. Marta era mulher nobre e piedosa com um coração de serva e uma rara capacidade de trabalho. Maria era ainda mais nobre, com uma predisposição rara para adoração e sabedoria. Ambas eram mulheres notáveis a seu modo. Que cultivemos com diligência os melhores instintos dessas duas mulheres.
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Livro: Doze Mulheres Notáveis, John MacArthur 2a Edição.
(*) Imagem encontrada em site de busca, internet.
(**) O pastor John MacArthur é um dos líderes evangélicos mais preeminentes de nossos dias. Seus livros, pregações e ministério têm atingido milhões de pessoas em todo o mundo. MacArthur é presidente do ministério Grace to You e exerce seu ministério pastoral na Grace Community Church, na Califórnia.