Livro - Recomendações aos jovens teólogos e pastores



Desde a sua primeira tradução para o inglês, em 1962, este livro singelo alcançou o patamar de um pequeno clássico da Teologia: milhares de alunos iniciantes na área já tiveram a oportunidade de “ouvir”  a aula inaugural que Helmunt Thielicke, um dos principais pensadores cristãos do século 20, ministrou a seus alunos do curso de teologia. Os conselhos valiosos dados por ele levam teólogos e pastores jovens e também aos mais experientes a voltar repetidamente aos sábios esclarecimentos que Helmunt transmite nesta obra, cuja mensagem sucinta é indispensável a todos que desejam permanecer fiéis a sua genuína vocação cristã;


Uma conversa preliminar com o leitor: Por meios destas reflexões o pastor que está ativamente envolvido no ministério possa não apenas reavivar algumas lembranças - isso ele certamente fará - mas também sentir-se desafiado em seus dilemas teológicos concretos. Sendo assim, nada mais natural que começar nossas aulas com uma meditação sobre o que acontece com a nossa vida cristã dentro de um curso de teologia e como essa caminhada na estrada do estudo teológico - e não apenas caminha, mas também pode tornar-se mais rica, profunda e frutífera.


Nos capítulos iniciais Thielicke começa fazendo-nos uma distinção sobre o papel da teologia para o teólogo e as precauções que este deve ter para com a teologia e sua transmissão para o público.
O teólogo está inserido em uma comunidade cética e que não entende teologia na perspectiva do teólogo. O cristão comum não participa da visão teológica do teólogo. É importante que o teólogo em formação mantenha-se paciente e não tente ultrapassar os limites naturais impostos pela natureza da Igreja.
Qualquer pessoa que lida com a verdade - como os teologos certamente fazem - sucumbem facilmente a essa psicologia do possuidor; Mas o amor é exatamente o oposto da vontade de possuir. O amor é altruísta, não se vangloria, antes humilha a si mesmo.
A verdade é usada como instrumento de triunfo pessoal e ao, mesmo tempo como instrumento mortífero, o que configura o mais contraste possível com o amor. E é assim que surge anos mais tarde, aquele espécie de pastor que age para não instruir, mas destruir sua igreja. E se os anciãos, a igreja e os jovens começam a gemer, se eles protestam a autoridade eclesiásticas e finalmente deixam de frequentar os cultos, esse homem ainda é fariseu a ponto de não dar a mínima atenção ao fato.
A sabedoria do mundo como aliada da fé. Existe ainda outra perspectiva a partir da qual deve-se levar a sério as objeções que o cristão comum faz a teologia. Além de questões de experiência, já mencionadas, há também esta desconfiança baseada em princípios.
Por que seria necessário ter, além da fé, algum tipo de conhecimento adicional que a sustente?
Não é arrogância demais pensar que só por meio da análise crítica da Bíblia podem ser estabelecidos fundamentos firmes para a fé?
Isso não seria tornar a sabedoria do mundo juíza da Palavra de Deus?
Essa objeção à teologia parece um tanto ingênua. Se perguntarmos por que é necessária uma base científica para a fé, com essa pergunta podemos perder completamente a perspectiva do nosso labor teológico. O teólogo não tem o menor desejo de menosprezar a fé com a sua teologia.
Martin Kähler em seu livro Der sogenamite historishe Jesus and der geschichtliche biblishe christus [O Jesus histórico e o Cristo bíblico da história] nos chama atenção para 02 pontos:


  1. A fé só faz sentido como fé incondicional, pois envolve nosso destino eterno. Não é possível que ela dependa e seja condicionada pelos resultados instáveis da pesquisa histórica ou pela opinião científica em voga.
  2. A pessoa de Jesus não pode ser separada de seu impacto, ou seja, da pregação inspirada pelo Espírito Santo e estabelecida na igreja


Kähler alegou que a reconstrução histórica independente da fé não pode se construir em base para fé e que, não pode de maneira alguma haver algo como cooperação da ciência como base ou substituto para fé; Muito pelo contrário, cada esforço da teologia está entrelaçado ao próprio ato de fé.
Cada conceito teológico que impressionar vocês ser considerado um desafio à sua fé. NÃO ACEITE sem refletir que você crê em tudo o que esclareça intelectualmente e o impressione teologicamente. Caso contrário, de repente você não estará crendo mais em Jesus Cristo, mas em Lutero ou em um de seus professores de Teologia.
A fé precisa ser mais do que um mero objeto enlatado nos livros ou engarrafamento nos cadernos, de onde possa no momento certo, ser transferida para nosso cérebro. Não podemos perder a essência do nosso relacionamento pessoal com Deus, ocupando-nos com as técnicas e códigos do vocabulário acadêmico. Nós precisamos chegar diante do Senhor, humildemente. Não abra mão disso, os estudos não podem roubar-lhe a essência de filho, perante o Pai.
O pensamento teológico só consegue respirar em atmosfera de diálogo com Deus.
Por fim, qualquer pessoa que deixe de ser espiritual estará automaticamente desenvolvendo uma teologia falsa, mesmo que o pensamento seja puro, ortodoxo e afinado com sua tradição confessional. Como cristão ou melhor, como cristão que ouve e ora. Cada um de vocês precisa lutar para não ser esmagado pela teologia e tornar-se em vez de um soldado de Cristo, meramente mais um cadáver no campo de batalha. A única forma de fazer um bom curso de teologia (desse curso ser relevante) é aplicar toda análise de idéias esse procedimento corretivo e simplesmente ver e ouvir.

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Livro: Recomendações aos jovens teólogos e pastores
Autor: Helmunt Thielicke
Editora: Vida Nova

Reimpressão 2016.