Estudo - Rute Capitulo 04 (2/2) Final.
III. UM DESCENDENTE (4.13-22)
O livro de Rute termina colocando os holofotes no descendente. Obede, o filho de Rute e Boaz passa a ter um papel importante na conclusão do livro. Alguns pontos merecem destaque.
1. O descendente é visto como dádiva de Deus (4.13)
A Bíblia diz que os filhos são herança de Deus. Eles são dádivas do Senhor. Eles não são um acidente, mas presentes do céu. Pode ser que os pais não planejam os filhos ou até não queiram ter os filhos, mas eles são concedidos por Deus. Olhar para os filhos nessa perspectiva faz toda a diferença. Leon Morris diz que por todo o livro de Rute persiste o pensamento de que Deus está acima de tudo, e faz cumprir sua vontade. Os anciãos e as demais pessoas consideravam os filhos como dádivas de Deus (4.12).
David Atkinson diz que se há um tema que domina o livro de Rute acima dos outros, é o da providência soberana de Deus e da nossa dependência dele como humanos. Deus é a fonte da vida. A vida, assim como suas bênçãos, é um dom da sua mão. E particularmente aqui a concepção de um filho é entendida como um dom de Deus. Olhando para esse aspecto da concepção como um dom de Deus, o debate sobre o aborto deveria ganhar uma dimensão mais ampla. A interrupção da vida não deveria ser apenas uma discussão entre o médico e a mãe. Trata-se de uma nova vida, obra prima das mãos de Deus.
Warren Wiersbe diz que nos Estados Unidos a cada ano, um milhão e meio de bebês são legalmente mortos ainda no ventre, e seus pedaços são removidos como se fossem tumores cancerosos. Uma enfermeira cristã comentou: Numa parte de nosso hospital trabalhamos dia e noite para manter os bebezinhos vivos. Em outra parte, matamos essa crianças.
2. O descendente é visto como um presente para sua família (4.14-17)
John Piper, pregando sobre este texto, diz que o foco nos versículos 14 a 17 não é sobre Rute nem sobre Boaz, mas sobre Noemi. E por que? Porque voltou para Belém amargurada e não feliz (1.20). Ela voltou para Belém pobre e não próspera (1.21). Ela voltou para Belém olhando para Deus como inimigo e não como ajudador (1.21b). Ela voltou para Belém vendo a Deus como flagelador e não como consolador (1.21c). O livro de Rute mostra que a vida do justo não é uma pista reta rumo à glória, mas uma estrada cheia de curvas e surpresas. A história do livro de Rute começou com as perdas de Noemi e termina com os ganhos de Noemi. A história começa com morte e termina com nascimento.
Um filho para quem? O versículo 17 diz: “As vizinhas lhe deram nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E lhe chamaram Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi”. As mulheres disseram que um filho nasceu a Noemi e não a Rute. Por que? Para mostrar que o que Noemi havia dito acerca de Deus não era verdade (1.21). Se tivermos mais paciência para esperarmos o tempo oportuno de Deus veremos que ele trabalha para nós e não contra nós.
Não, Noemi não voltou pobre e vazia para Moabe (1.21). Foi Deus quem deu Rute a Noemi. Essa jovem viúva moabita disse para sua sogra: “… o teu Deus é o meu Deus” (1.16). Rute veio a Belém com Noemi para buscar abrigo sob as asas de Deus (2.12). Foi o próprio Deus quem trouxe Rute a Belém para abençoar a vida de Noemi. Noemi não está percebendo, mas é Deus quem a está conduzindo a esse destino feliz.
Noemi deu a impressão que não havia nenhuma esperança de Rute casar-se em Belém para suscitar um descendente à linhagem da sua família (1.12). Mas, foi Deus quem preservou Boaz, um homem rico, piedoso e parente da família, para casar-se com Rute. A própria Noemi precisa render-se a essa evidência (2.20). Noemi reconheceu que por trás daquele encontro casual de Rute com Boaz estava a bendita providência divina que não se esquece de sua benevolência com os vivos nem com os mortos. Em toda perda que o povo de Deus suporta na vida, Deus a transforma em ganho.
Foi Deus quem abriu o ventre de Rute para conceber. Foi Deus quem concedeu a Rute conceber e ter um filho (4.13). Ela foi alvo das orações dos anciãos da cidade nesse sentido (4.11). Continuamente Deus está trabalhando em favor de Noemi para provar-lhe seu favor. Quando ela perdeu seu marido e filhos, Deus deu a ela Rute. Quando ela pensou num resgatador, Deus deu a ela Boaz. Quando Rute casou-se com Boaz, Deus deu a ela um filho.
3. O descendente é visto como uma fonte de alegria para seu lar (4.14-17)
O neto de Noemi é alvo das orações das mulheres de Belém. Ele seria o resgatador de Noemi (4.14). A sua família se perpetuaria na terra por intermédio dele. Nesse sentido não foi Boaz o goel de Noemi, mas seu neto. Foi ele quem fez perpetuar o nome da família de Noemi sobre a terra e foi seu arrimo na velhice.23 Também, ele teria um nome afamado em Israel, para além das fronteiras da sua cidade (4.14b). Obede, ainda, seria o restaurador da vida de Noemi (4.15). Seria seu arrimo, seu provedor, seu sustentador. Finalmente, Obede seria o consolador da velhice de Noemi (4.15b). Noemi não teria uma velhice amargurada. Seus melhores dias não estavam enterrados no passado, mas estavam pela frente.
4. O descendente cresce numa família onde reina amor e harmonia (4.15,16)
Há duas coisas importantes aqui dignas de nota:
Em primeiro lugar, Rute ama sua sogra e lhe é melhor do que sete filhos (4.15). Transborda em todo o livro o belíssimo relacionamento entre Rute e Noemi. Agora, as mulheres da cidade dão um testemunho público acerca do amor de Rute pela sogra. E acrescentaram: “… pois tua nora, que te ama […] te é melhor do que sete filhos” (4.15). Leon Morris diz que o tributo ela te melhor do que sete filhos é extraordinariamente relevante em face do valor comumente atribuído aos homens, em comparação com as mulheres. A ambição de todos os casados era uma prole masculina numerosa; assim, falar de Rute, como sendo mais valiosa para Noemi do que sete filhos (a expressão proverbial para a família perfeita) é o supremo tributo.
Em segundo lugar, Noemi cuida do neto sem qualquer atitude de ciúmes de Rute (4.16). Noemi não apenas tem a alegria de receber um neto, mas o privilégio de cuidar dele. Rute não tentou afastou o filho da avó, ao contrário, deu-lhe liberdade para instruí-lo. Noemi esperava amargar uma velhice solitária, quando perdera o marido e os filhos. Com a chegada do neto, ela voltou a ter uma família. Era amada, e tinha um lugar de honra. O bebê, num certo sentido, simbolizava tudo isto, e Noemi dedicou-se a ele.
5. O descendente trará ao mundo uma semente abençoada (4.17-22)
Todo bebê nascido neste mundo é um voto em favor do futuro. Ao segurar um bebê, se segura o futuro nos braços. O livro de Rute conclui com uma curta genealogia, ligando Perez (filho de Judá) com Davi. Obede, filho de Rute e Boaz, torna-se o pai de Jessé e Jessé, o pai de Davi, o maior rei de Israel. O próprio Messias viria ao mundo mil anos depois do grande monarca, sendo chamado de Filho de Davi. O autor do livro de Rute não olha apenas para Obedece. Ele levanta seus olhos e vê mais além. Ele olha para a história da redenção. Deus não estava trabalhando apenas para prover bênçãos materiais a Noemi, Rute e ao povo de Belém. Ele estava preparando o cenário para a chegada de Davi, o maior rei de Israel. O nome de Davi trazia consigo a esperança do Messias num novo tempo de paz, justiça e liberdade, onde o pecado e a morte seriam vencidos. A história do livro de Rute abre as cortinas da esperança nos aponta para Jesus!
Leon Morris nessa mesma linha de pensamento, escreve:
O propósito do casamento de Boaz com Rute era conduzir, no devido tempo, ao grande rei Davi, o homem segundo o coração de Deus, o homem em quem os propósitos de Deus foram executados de modo extraordinário. Estes acontecimentos em Moabe e Belém desempenharam seu papel em conduzir àqueles que redundariam no nascimento de Davi. Os crentes considerarão, também, cuidadosamente, a genealogia que aparece no começo do evangelho de Mateus, e refletirão que a mão de Deus cobre a história toda. Ele executa seu propósito, geração após geração. Visto que somos limitados a uma única vida, cada um de nós vê apenas um pouquinho daquilo que acontece. Uma genealogia é maneira extraordinária de trazer diante de nossos olhos a continuidade dos propósitos de Deus, através dos tempos. O processo histórico não é casual. Há um propósito em tudo. Esse propósito é o propósito de Deus.
As dez pessoas cuja genealogia é registrada nos últimos cinco versículos do livro de Rute podem ser encontradas na passagem de Mateus 1.3-6 como formadores de elos importantes na linhagem do Messias. Assim, os nomes que aparecem na genealogia desde Perez até Davi (4.18-22) são os mesmos que aparecem na genealogia de Jesus, conforme o relato de Mateus (Mt 1.1-6). Assim, o livro de Rute deseja nos ensinar que o propósito de Deus para a vida do seu povo é conectado com alguma coisa maior do que nós mesmos. Deus deseja que saibamos que quando andamos com ele nossa vida sempre significa mais do que pensamos que ela significa. Para o cristão sempre haverá uma conexão entre os eventos ordinários da vida e a estupenda obra de Deus na história. O livro de Rute aponta para Davi. Davi aponta para Jesus e Jesus aponta para a glória final, quando reinaremos com ele na glória eterna, onde Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima (Ap 21.4).
Que possamos como Rute declarar a nossa disposição e obediência amorosa em aceitar o gracioso convite de Deus para desfrutar do nosso lugar sob o refúgio de suas asas.
O melhor ainda está por vir. Esta é uma gloriosa verdade a seu respeito, se você anda com Deus.
IV. LIÇÕES PRÁTICAS DO TEXTO
1. Você tem um grande valor para Deus
Não importa sua nacionalidade, sua família, sua cultura, seus bens, você tem um grande valor para Deus. Sua vida pode não ter sido planejada pelos seus pais, mas foi planejada por Deus. Você não veio ao mundo pelo acaso. Há um plano perfeito e um propósito eterno que rege sua vida. Rute era uma viúva moabita. Além de estrangeira era pobre e desamparada. Deus providenciou para ela não apenas uma família e riquezas, mas perpetuou seu nome, fazendo dela a genitora de uma abençoada descendência. Aquela viúva que viveu em tempos tão remotos tem seu nome relembrado com honra por gerações sem fim.
2. O casamento é uma grande fonte de bênção quando feito dentro da vontade de Deus
Boaz era um homem rico, mas sua vida carecia de um propósito maior. Antes de Rute Boaz trabalhava, ganhava dinheiro, vivia bem, mas não tinha um propósito. O casamento nos dá um elevado propósito para viver. Boaz, tão logo conheceu Rute buscou esse propósito com todas as forças da sua alma. Seu casamento abriu novos horizontes para intervenções gloriosas de Deus.
Por outro lado, nada é mais frustrante do que um casamento feito às pressas, sem reflexão, sem apoio da família, sem alegria das testemunhas, sem convicção do amor. O casamento pode ser um jardim marchetado de flores ou um deserto árido. O casamento pode ser como um vôo de liberdade ou uma prisão torturante.
3. Os filhos são presentes de Deus
Os filhos são herança de Deus. Eles valem mais do que as riquezas. Logo que Obede nasce o texto silencia a respeito dos bens de Boaz. Nada se compara a riqueza que os filhos representam. A chegada de Obede foi celebrada com mais alegria do que as abundantes colheitas de tribo. Pessoas valem mais do que coisas. Os filhos valem mais do que o dinheiro. O nosso maior investimento deveria ser nos relacionamentos. Nenhum sucesso compensa o fracasso no relacionamento com os filhos.
4. A vida deve ser vida com a eternidade em perspectiva
A última palavra do livro de Rute é DAVI. Noemi, Rute e Boaz não viveram em vão porque eles fizeram parte de um propósito divino. O destino deles estava sendo conduzido pelo céu e não pela terra. Tinha sido desenhado na eternidade e não no tempo. O casamento de Rute com Boaz que trouxe ao mundo Davi desembocou no próprio Messias. O casamento de Rute aconteceu em Belém. Davi nasceu em Belém. Jesus nasceu em Belém e de Belém esparramou-se a salvação de Deus para todos os povos.
Hoje, você pode não entender os planos de Deus na sua vida. Hoje as providências de Deus podem parecer carrancudas e assustadoras para você. Mas, no andar de cima, na sala de controle do universo, as coisas estão meticulosamente planejadas e determinadas. E Deus as levará a cabo para o seu bem, para a glória do seu próprio nome. Hoje seus problemas podem parecer intrincados, difíceis e você pode pensar em dizer: “Não tem jeito!” Mas, olhe na perspectiva da eternidade e entenda que Deus quer transformar sua vida em algo extraordinário.
5. O melhor de Deus ainda está por vir
Nós não caminhamos como os discípulos de Emaús para o entardecer da história. Não estamos fazendo uma viajem rumo ao ocaso. Nossa jornada é para o romper da alva. O fim da nossa jornada não será um túmulo frio coberto de pó, mas uma eternidade cheia de glória, onde reinaremos para sempre com Cristo. Aqui, como Rute, cruzamos vales e montes, atravessamos pontes estreitas e pântanos lodacentos. Aqui nosso corpo é surrado pela doença e até tomba pela fúria implacável da morte. Mas, a morte não tem mais a última palavra em nossa. Seguimos as pegadas daquele que arrancou o aguilhão da morte. O nosso Redentor é a Ressurreição e a Vida.
Não estamos viajando num bonde que se afundará nas águas encapeladas do mar da vida. Em breve, a trombeta de Deus soará. Em breve, a voz do arcanjo será ouvida. Em breve todos os inimigos serão colocados debaixo dos pés do nosso Senhor. Em breve todo joelho se dobrará e toda língua confessará que ele é Senhor. Em breve, deixaremos esse corpo de humilhação e seremos revestidos com um corpo de glória. Em breve, estaremos para sempre com o Senhor. Não importa se agora o caminho é estreito. Não importa se os inimigos são muitos e estão furiosos contra nós. Nosso destino é glória e é o nosso próprio Senhor vitorioso que nos conduzirá ao lar!